quarta-feira, abril 30, 2008

A Morte tem várias faces

Ela apareceu de repente, quase fora do meu campo de visão. Quando percebeu que eu a havia notado, disfarçou-se, como pôde, de gnomo.

"Gnomo nenhum carrega uma alabarda, ainda mais desse porte!", disse, indignada. Chamei a atenção de meus amigos.

Um deles disse que mais parecia a Morte. Eu sabia que não estava enganada. Te peguei, safada, o disfarce não colou.

Ela não se deu por vencida. Mudou o disfarce, encarnando um mago velho tipo Gandalf. Sua foice, um cajado. Dessa vez convenceu, mas, lá no fundo, eu sabia que era ela.

Fiquei olhando encucada, até que veio o vento e a desfez. Voltou a ser só mais uma nuvem no céu estrelado sobre o mar escuro. Terminamos nosso vinho, entramos no carro e fomos para nossas casas.

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segunda-feira, abril 28, 2008

Estou fazendo cestos de jornal.

E sim, é porque eu não tenho mais porra nenhuma de útil pra fazer até agosto, que é quando minhas aulas começam.

Eu estava precisando de um cesto pra colocar revistas em quadrinhos, já que sou uma consumidora ávida. Sem dinheiro, corri os olhos pelo quarto e dei de cara com uma pilha de revistas velhas que não foram jogadas fora por preguiça. Achei interessante torná-las úteis e me sentir uma pessoa politicamente correta uma vez na vida que fosse.

Portanto, amiguinhos, estou aceitando doações de revistas e jornais velhos.

(Mas se quiser me doar romances de Dragonlance em inglês, que estão baratinhos na Saraiva, também tô aceitando. Quem sabe não paro de me cercar de papeis, revistas e traças?)

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domingo, abril 13, 2008

Num mundo ideal...

...antes de ser considerado legalmente adulto, o ser humano deveria ser aprovado em uma bateria de testes aplicados pelo governo. Não seria nada de excessivamente complicado, apenas algumas provas teóricas e uma série de avaliações práticas, para confirmar o talento do indivíduo ao lidar com as situações cotidianas. Caso o candidato fosse reprovado, seria enviado de volta ao jardim de infância da vida, para reestudar tudo de novo bem do princípio, começando com aquela época em que os orifícios da tomada pareciam ser lugares legais de se enfiar o dedo.

Como eu disse, os testes seriam simples, mas variados. Iriam da prova escrita de "Lista de Supermercado 101" até à prova prática de "Pagar a Conta de Luz em Dia III". Claro, haveriam também cadeiras de "Civilidade e Respeito ao Próximo", "Mantendo Informações Que Os Outros Não Querem Saber Para Si", "A Hora e a Medida Certa de Dar Chineladas em Seus Filhos" e "A Verdadeira Função do Celular".

Infelizmente, esse mundo ideal, onde, aliás, os insetos e os aracnídeos têm pavor de seres humanos e mantém a distância, os palhaços de circo foram todos substituídos por comediantes stand-up e foi decretada uma lei proibindo o consumo de coentro, cominho e vísceras (exceto coração e fígado de galinha, e este último só em forma de patê), só existe na minha cabeça.

E é por isso que somos obrigados a aturar emos, pagode no último volume até altas horas da madrugada em plena segunda-feira, caixas de banco cheios de má vontade, piriguetes que não sabem falar baixo comentando suas intimidades com a amiga (e o resto todo do ônibus, aparentemente), celulares tocando no último volume dentro do cinema, e, principalmente, aquela sensação de desamparo completo que nos acomete quando nos damos conta de que, embora teoricamente adultos, não sabemos nada da vida. E pensar que é nossa responsabilidade educar a próxima geração...!

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terça-feira, abril 08, 2008

Moralmente Inviável - Anti-Vegan

Tenho zilhões de idéias prontas para serem desenvolvidas, mas, como estou ligeiramente bêbada - uma história curiosa, que prometo qualquer dia contar aqui -, estou com preguiça de escrever. Assim sendo, até quinta-feira, fiquem com esse vídeo. Garanto que tenho bons motivos para introduzí-los a este programa, e em breve vocês vão entender o porquê.

Divirtam-se com o papo de bêbado de Miguel, Marcão, Gnomo e Pedro, meus amiguinhos loucos do programa Moralmente Inviável!

Eu quero ter um milhão de amigos...

Eles podem surgir de qualquer parte, em qualquer lugar. A princípio, movidos pelo interesse; mesmo sabendo disso, não resisto a seus olhos brilhantes e cedo muito mais do que teoricamente deveria. Eu sei, sou ingênua demais.

Eles se aproximam, temerosos. Acho que não acreditam que eu realmente esteja disposta a dar a eles o que eles querem de mim. Então me abro, e deixo que tomem de mim o que quiserem, sem medo, sem apego. A mera presença deles me enfeitiça, e eu não consigo evitar fazer o que eles querem. Só faço o que tenho que fazer e fico lá, parada, com cara de abestalhada admirando cada movimento.

É nesse momento que conquisto sua confiança, e, no mundo em que eles vivem, isso significa muito mais do que no nosso. E, antes que eu perceba, milhares deles se agrupam ao meu redor, felizes, gentis, fazendo que eu me sinta parte da gangue.

Não importa onde: seja no Pelourinho ou no Mercado do Peixe, indo para o shopping ou voltando para casa, sempre tem um cãozinho ou um gatinho de rua ao meu redor, clamando por comida, um lar ou simplesmente um pouco de atenção e carinho.

E eu sempre fico com uma dor enorme na alma quando vou embora, uma vontade imensa de carregar eles todos para casa. Queria morar num lugar com tanto espaço para bichinhos quanto meu coração.

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segunda-feira, abril 07, 2008

Passarinhos nucleares

As idéias são como passarinhos: surgem aparentemente do nada, e, a qualquer movimento brusco, elas se assustam e voam para longe. No entanto, é preciso certo cuidado no manuseio, maior que com pássaros - uma idéia provocada na hora errada pode fazer um estrago muito maior do que uma simples mancha de sujeira no capô do carro. Elas explodem e acabam ferindo quem estiver por perto. São passarinhos atômicos, passarinhos nucleares.

Certa feita, estava eu no ônibus e me surgiu uma idéia genial para postar no blog. Apesar de carregar sempre comigo uma caderneta para anotá-las, e dar a merecida atenção a elas depois, não tinha sequer um lápis no momento. Fiquei com medo.

Me agarrei à idéia como se dela dependesse minha vida, evitando desenvolvê-la mentalmente. Afinal, tenho o hábito de viajar tanto em minhas idéias que freqüentemente esqueço o ponto em que comecei. Ignorei solenemente todas as outras que vieram na seqüencia, e, tão logo cheguei em casa, anotei a idéia original e, só então, me permiti viajar nela. Todas as demais, claro, desapareceram, assustadas com a determinação com que eu me agarrava em uma delas.

Suspeito que os passarinhos que fugiram tinham cores bem mais bonitas que os que eu engaiolei. Mas, fazer o que, é a vida. Mais vale um pássaro na mão...

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domingo, abril 06, 2008

"Obrigada por comentar o óbvio"

Dizer para aquela amiga que engordou uns 20kg desde a última vez em que você a viu, e que está tão traumatizada que cogita a possibilidade de procurar um terapeuta (para não falar em um cirurgião plástico), que ela parece um pouco mais robusta não é apenas gastar saliva para dizer algo que ela já está careca de saber, como também é crueldade. Mas, ofensas pessoais disfarçadas em elogios pouco ortodoxos são o de menos. Afinal, sempre se pode desenterrar algum motivo obscuro para justificar a mudança E constranger a pessoa.

Perguntar para uma pessoa que acabou de cortar o cabelo se ela, de fato, cortou o cabelo, ou perguntar cadê o resto dele, não apenas é desnecessário, como também idiota. Mas é relevável, afinal, sempre se pode responder que tirou para lavar ou fazer algum comentário cretino sobre o paradeiro do cabelo, afirmando que o cachorro comeu junto com a lição de casa ou que tinha subido na árvore do vizinho para roubar mangas na precisa hora em que ele resolveu podar a bichinha, ou algo igualmente nonsense.

Elogios a um texto, um desenho, uma roupa ou ao corte do cabelo (sim, um dia acordei e ele tinha desaparecido até a altura dos ombros. O paradeiro ainda é um mistério...) são até justificáveis (afinal, eu fiz alguma coisa para merecê-los), mas ainda assim me deixam um pouco sem reação. Acabo murmurando um "obrigada" constrangido e a conversa para aí. O problema todo é com elogios a coisas com as quais eu não tive nada a ver.

Quer dizer, o que esperam que eu diga quando olham para mim e dizem, em tom excessivamente elogioso, "que lindos olhos você tem!", ou "parabéns pelos seus olhos"? Tudo bem, eles são verdes e eu mesma os acho lindos, mas... eu não tenho nada a ver com isso. Não me parece justo agradecer por um elogio a algo no qual eu não tive participação nenhuma. Ao mesmo tempo, responder um "pois é, meus pais que fizeram para mim" me parece um tanto boçal.

Da última vez em que me disseram isso, eu cogitei a possibilidade de responder um "ei, se quiser igual, você pode encontrar tons parecidos e artificiais na ótica mais próxima". Só que eu olhei para a cara do cidadão e percebi que os olhos dele eram azuis. Vendo minha confusão, o homem respondeu "pois é, sempre quis ter olhos claros. Como não tive essa sorte, tive que comprar os meus". Ah, tá explicado. Eu devia ter desconfiado - quem tem o azar (sim! azar!) de nascer com genes aa para a cor dos olhos nunca comenta os olhos alheios.

O mesmo vale para "nossa, que pele branquinha, parece de porcelana!". Mais parece um "você não sai de casa durante o dia não?" disfarçado, mas tem gente que realmente diz isso como elogio. Novamente, malditos genes recessivos.

Qualquer dia, em respostas a comentários sobre minha brancura impecável, não me refrearei de largar um "omo multi-ação", ou "Use protetor solar fator dragão vermelho e fique longe das praias. Passar bem."

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