domingo, abril 06, 2008

"Obrigada por comentar o óbvio"

Dizer para aquela amiga que engordou uns 20kg desde a última vez em que você a viu, e que está tão traumatizada que cogita a possibilidade de procurar um terapeuta (para não falar em um cirurgião plástico), que ela parece um pouco mais robusta não é apenas gastar saliva para dizer algo que ela já está careca de saber, como também é crueldade. Mas, ofensas pessoais disfarçadas em elogios pouco ortodoxos são o de menos. Afinal, sempre se pode desenterrar algum motivo obscuro para justificar a mudança E constranger a pessoa.

Perguntar para uma pessoa que acabou de cortar o cabelo se ela, de fato, cortou o cabelo, ou perguntar cadê o resto dele, não apenas é desnecessário, como também idiota. Mas é relevável, afinal, sempre se pode responder que tirou para lavar ou fazer algum comentário cretino sobre o paradeiro do cabelo, afirmando que o cachorro comeu junto com a lição de casa ou que tinha subido na árvore do vizinho para roubar mangas na precisa hora em que ele resolveu podar a bichinha, ou algo igualmente nonsense.

Elogios a um texto, um desenho, uma roupa ou ao corte do cabelo (sim, um dia acordei e ele tinha desaparecido até a altura dos ombros. O paradeiro ainda é um mistério...) são até justificáveis (afinal, eu fiz alguma coisa para merecê-los), mas ainda assim me deixam um pouco sem reação. Acabo murmurando um "obrigada" constrangido e a conversa para aí. O problema todo é com elogios a coisas com as quais eu não tive nada a ver.

Quer dizer, o que esperam que eu diga quando olham para mim e dizem, em tom excessivamente elogioso, "que lindos olhos você tem!", ou "parabéns pelos seus olhos"? Tudo bem, eles são verdes e eu mesma os acho lindos, mas... eu não tenho nada a ver com isso. Não me parece justo agradecer por um elogio a algo no qual eu não tive participação nenhuma. Ao mesmo tempo, responder um "pois é, meus pais que fizeram para mim" me parece um tanto boçal.

Da última vez em que me disseram isso, eu cogitei a possibilidade de responder um "ei, se quiser igual, você pode encontrar tons parecidos e artificiais na ótica mais próxima". Só que eu olhei para a cara do cidadão e percebi que os olhos dele eram azuis. Vendo minha confusão, o homem respondeu "pois é, sempre quis ter olhos claros. Como não tive essa sorte, tive que comprar os meus". Ah, tá explicado. Eu devia ter desconfiado - quem tem o azar (sim! azar!) de nascer com genes aa para a cor dos olhos nunca comenta os olhos alheios.

O mesmo vale para "nossa, que pele branquinha, parece de porcelana!". Mais parece um "você não sai de casa durante o dia não?" disfarçado, mas tem gente que realmente diz isso como elogio. Novamente, malditos genes recessivos.

Qualquer dia, em respostas a comentários sobre minha brancura impecável, não me refrearei de largar um "omo multi-ação", ou "Use protetor solar fator dragão vermelho e fique longe das praias. Passar bem."

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