terça-feira, agosto 19, 2008

"Ela estava numa situação propícia"

Com uma afirmação retumbante e despropositada dessas, de cunho nem um pouco machista, a Reitoria tentou se esquivar da responsabilidade pelo ocorrido de hoje de manhã. Desnecessário dizer que falhou miseravelmente.

Às nove horas da manhã de hoje, na trilha do parque memorial da Mata Atlântica, no campus de Ondina, na UFBA, uma aluna de dança foi estuprada. A menina estava fazendo sua aula de condicionamento físico quando foi abordada por um homem, não identificado, portando uma arma. Durante uma hora e meia, ele fez o que quis.

Essa é a versão oficial que correu os campi da UFBA. Ouvi em outros momentos que eram dois sujeitos, e que foi às onze, ou às dez, ou dez e meia. Não importa. O único fator invariável na equação do "telefone sem fio" foi exatamente o mais preocupante: Uma. Aluna. Foi estuprada. DENTRO DO CAMPUS. EM HORÁRIO DE AULA.

Hoje, me senti meio orgulhosa por fazer parte do corpo discente da UFBA. Foi a manifestação mais pacífica e bem mobilizada de que jamais participei, desde os tempos da Alternativa Socialista.

Mas não bastava o ocorrido ter sido revoltante. Não, senhores. Se a situação já não fosse precaríssima, a Reitoria faz questão de piorar, soltando a pérola que entitula este artigo.

Tááá... Situação propícia? Porque? Porque a vítima é do sexo feminino? Porque estava andando por uma trilha cheia de mato no meio do campus? Porque estava de shortinho?

Então tá. Como se estupro fosse uma coisa super natural e frequente em condições naturais de temperatura e pressão.

Francamente, um comentário infeliz desses em pleno século XXI me faz sentir profunda vergonha em pertencer à raça humana. Em ser da mesma espécie dessa racinha feia que encabeça o corpo docente da minha, da sua, da nossa faculdade.

Suspeito que o Exmo. Sr. Naomar não deve ter filhas. Caso contrário, se comoveria com a situação, em vez de passar a responsabilidade pela falta de segurança nos campi pra cima dos alunos.

E o noticiário ainda anuncia que foi uma tentativa de estupro. Me pergunto quanto nosso honestíssimo reitor desembolsou pra imprensa abafar o caso.


Desculpem, sei que este post foge totalmente ao espírito cretino do blog. Mas é que tem coisas que, simplesmente, ninguém merece.

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