domingo, dezembro 12, 2004

bzzz poc

bzzz poc poc bzzzzz

Eu estava no PC.

bzzzzzz poc tec poc poc bzzzzzz.

Em meio aos gemidos e vocalizações de Madonna em Justify My Love, esse barulho sobressaía.
Eu odeio os ruídos que surgem aqui em casa.

bzzzz poc.

E esse ruído começava a me irritar. Profundamente. E eu não conseguia distinguir daonde vinha. Sou meio surda, e demoro pra perceber direções de onde vêm os sons.

bzzzzz. poc poc poc teim!

Me irritei. Levantei da cadeira e fui até meu quarto, daonde eu supunha que viesse o som.

bzzzzzzzz poc poc bzzzz poc.

É, era do meu quarto mesmo. Procurei daonde exatamente vinha aquele barulho irritante.
Olhei para o chão. Nada além de roupas jogadas, um par de coturnos e um tapete.Olhei para a cama. Lençóis e edredons amassados, uma profusão multicolorida de bichos de pelúcia, travesseiros e desenhos de olhos gigantes e cores oníricas. Um prendedor de cabelo jogado, alguns livros, nada que pudesse zumbir.

Olhei para o teto.

bzzz.

Olhei para o teto, embasbacada.
Era enorme. Asas negras, que se agitavam freneticamente. O zumbido aumentou, me dando a impressão de que havia um helicóptero dentro do meu quarto. E as batidas, ah, as batidas na lâmpada, irritantes, frequentes...

poc. poc poc poc teim.

Eu odeio insetos. Quanto maiores, mais os odeio. Apenas se salvam as borboletas, mariposas e joaninhas. Todos os outros poderiam morrer.
E havia um inseto ali.

bzzzzz teim!

Um inseto imenso. Uma aberração da natureza, uma monstruosidade parida pelo sarcasmo divino, um aborto, enfim.
Um besouro. Um besouro bizarro, bisonho, medonho, terrorífico e apavorante.

bzzzz poc.

Ele parecia hipnotizado pela lâmpada. Bom, que seja, pelo menos ele ficaria lá no teto, e não aproximaria suas patas nojentas de mim.

bzzzz poc poc bzzzzzzz teim!

Uma vez descoberto o foco do barulho, voltei para o PC. O medo do desconhecido desapareceu. O sol raiou no horizonte, e o aroma das flores atraía as borboletas multicor. Lágrimas desceram de meus olhos, pois eu havia descoberto o sentido da vida. Me senti mais leve, como uma folha no equinócio de outono, que lentamente cai para cumprir sua função de adubar a terra durante o inverno, para que as flores espalhem novamente a vida na primavera... Broken começou a tocar em algum lugar e por fim me senti feliz.

Fim.

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sábado, dezembro 11, 2004

Ode a Igarassu

Carrapatos e pernilongos
Pulgas e Içás
Charque, macaxeira
Sargasso de Itamaracá!

Sapaiada, revoada
De moscas no manguezal
Besouros e percevejos
Sinto falta do meu matagal!

Lago verde das muriçocas
Sua redoma de lodo cinza
Faz meus olhos brilharem
Como a pele das gias

Oh, rebanho de calangos!
Arrastão de sagüis!
Escorpiões e tarântulas
A correr aqui e ali!

Charque, macaxeira
Graviola e cajá
Carne moida com cominho
Nunca fui a Gravatá

Reclusa na natureza
No coração de Tabatinga
Pego Kombis lotadas
De suvaco alheio, a catinga

Por todas essas coisas
Sentirei falta de Igarassu
Quero voltar para o Rio
Cidade provinciana, vá tomar no cu!

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terça-feira, dezembro 07, 2004

O Broto.

Hoje eu quero escrever sobre um broto que é um arraso, mora?
É uma raposinha supimpa, bacana, realmente o bicho. Apesar de ser meio peralta, serelepe, sapeca e traquinas, esse broto é de parar o trânsito!
Quando ela chega, na sua caranga envenenada, é batata! Começo a agir que nem um bocó de mola, tremendo feito vara verde e doidão pra picar a mula. Acho até que estou ficando meio lelé da cuca.
Cacilda! Acho que tô gamadão! Ela é batuta pra chuchu, mas ela não dá brecha pra um flerte... Ela tem jeitinho de quem prefere um cara na beca, do tipo bacana à beça, bem prafrentex mora?
Ela é bem levada da breca, um chuchuzinho mesmo... Usa uns kichutes que tão na crista da onda, do balacobaco... E eu não tô querendo chaleirar não, mas que ela é pitéu pacas, é!
Meu medo é que ela me mande ir catar coquinho. Ora bolas, eu ia ficar era na pindaíba! Vai que o broto já tem um cacho? E que o cara cisma comigo e vem querer me dar uma coça, daquelas lambadas bem dadas, na camaradagem... Ia ser de outro mundo!
Mas, se ela topasse... Ia ser chuchu beleza! Tudo ia ficar jóia, e eu ia ser o cara mais feliz do mundo! Nunca mais ia trocar gato por lebre, nem ia deixá-la na mão. Eu tô pra lá de marrakesh, achando tudo divino-maravilhoso, com essa coisinha louca... Eu só queria que ela me dissesse que a barra tá limpa, que eu não sou nenhum boko-moko, nada de chinfrim, que eu sou todo tranchã e que ela quer que eu seja o ursinho pimpão dela. Ah, boneca, por você eu tô virando o maior psico da paróquia, encaro o xarope do teu pai, apronto o maior fuzuê! Eu sei que tá meio cafona esse meu lero détraqué, completamente demodé, piegas mesmo, mas eu não tenho culpa se você tem it! Eu posso ser quadrado, encucado, o que for! Não aguento mais minha mãe me dizendo, 'eita ferro, se vira, praxedes! jesus, maria, josé, é melhor você tirar esse cavalinho da chuva...', mas na verdade eu não me importo, o que eu quero é você! E pra isso tô topando qualquer breguete!
Ela sabe que tem sex appeal, e, quer saber, bicho? Eu concordo com ela! Raposinha, tô contigo e não abro! Você é fera, neném!
Outras gírias pesquisadas pra compor esse texto idiota: 'Trique trique rolimã', 'necas de pitipiribas', 'vivaldino', 'solo rasgado', 'fala mestre!' e similares... Não foi possível achar onde enfiá-las.
Agradecimentos a frost, Fubá, Moon e Angus (sei lá algum link po =/) por terem colaborado com minha busca incessante por novas gírias antigas. Agora me xinguem, porque esse é o post mais idiota de todos os que eu já escrevi.

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domingo, dezembro 05, 2004

Eu e as cantadas

Como todo mundo sabe, eu não sou nenhuma deusa, nem exatamente um exemplo de beleza feminina. Mas, como também é de conhecimento geral, isso não é nem nunca foi o bastante para livrar mulher alguma da pior praga dentre todas as proporcionadas pelo gênero masculino: as famigeradas cantadas. Eu não sou exceção, e por isso resolvi dedicar um post a esse assunto.

Costumo viajar muito, e, por isso, recebi cantadas de espécimes provenientes dos quatro cantos do Brasil. É impressionante ver a criatividade, ou a falta desta, que acomete a todos os praticantes desta bela arte denominada 'xaveco'. Seguem alguns exemplos de pérolas coletadas por aí, com os respectivos lugares onde foram proferidas e alguns comentários a respeito:

Rio de Janeiro - RJ
Como (quase) todo mundo sabe, eu sou carioca. Vivi no Rio por 17 anos, e, sendo assim, é de lá que vem o maior número de cantadas recebidas.

A mais sem criatividade:
'Oi, você vem sempre aqui?'
É terrível receber uma dessas quando se está no shopping praticamente do lado da sua casa. Você tem vontade de rir da cara do sujeito. É uma falta de vergonha na cara absurda, ter coragem de mandar uma dessas em pleno século XXI. Sinceramente.

A mais grotesca:
'Aê potranca, demorô de eu dar uns rolé nas tuas carne?'
Deuses! Malditos sejam os funkeiros.

A mais engraçada:
- Oi, sabia que eu sou pintor?
- É?
- É. Posso pintar as paredes do seu útero de branquinho?
Tá, essa não foi comigo. Foi com uma amiga minha, mas eu estava do lado e vi o desenrolar do diálogo. Mais direto impossível, e definitivamente criativa e divertida. O autor desta pérola merecia o prêmio nobel das cantadas, se existisse um. Parabéns, definitivamente.
Pena que não cola com ninguém. Não que eu tenha tentado.

Feira de Santana - BA
Ok, é um lugar no qual eu não estive muitas vezes, talvez duas apenas, e apenas de passagem para ir para o sul ou voltar para casa. Mas mesmo assim não escapei.

'Ô Cigana, vem cá, você me enfeitiçou'

Eu estava com uma saia indiana na ocasião. Morrendo de sono e vontade de fumar, depois de quase 24h dentro de um maldito ônibus. Devo dizer que saí correndo de perto para não avançar sobre o cidadão e espancá-lo até a morte. E se faz necessário comentar também que eu tenho traumas profundos de Feira de Santana. Eis um lugar onde preferia evitar pisar, se fosse possível, por todo o resto da minha vida.

Curitiba - PR

'Boa tarde, senhorita. Seus lábios e seus olhos são lindos.'

É por essa e por outras coisas que eu sou apaixonada por Curitiba. Pessoas educadas, seres humanos que se comportam como tais. Isso não é nem uma cantada, é um elogio, um galanteio. Por mais mal humorada e rabugenta que você esteja, é quase impossível evitar um sorriso e um agradecimento, a não ser que você seja uma vaca insensível.

'Seu namorado é um sortudo, mas acho que você é uma namorada mais sortuda ainda'

Foi a cantada dupla mais cômica que já ouvi na minha vida. Sem comentários.

Igarassu - PE
Tá, eu nunca recebi nenhuma cantada igarassuense, a não ser que as buzinadas de caminhão ocasionais ou os toques no ombro dos cobradores de kombi sejam cantadas. Em geral, considero as buzinadas como desaforos, e os toques no ombro como um aviso de que é preciso pagar a passagem, mesmo que ainda faltem 3km pro ponto em que vou saltar.

Na estrada

'Na próxima parada, eu te pago uma cerveja', e cumprir a promessa.
'Loirinha, pega aí uns chocolates... Não, não aceito um não como resposta, se você não pegar unzinho que seja vou ficar ofendido!'

Sabem, definitivamente estas duas últimas foram minhas cantadas preferidas. Não colaram, mas pelo menos ganhei cerveja e chocolate =~

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