terça-feira, fevereiro 27, 2007

Oh, noes! Roubaram meu sotaque!

Pois é. Tudo começou no final de 2003, quando, após o falecimento de minha adorada mamãezinha, seguido de perto pelo final do ano letivo (eu estava no 2o ano), me mandei do Rio para Curitiba. Sim, crianças, sou carioca, por increça que parível. Depois de duas semanas por lá, retornei ao Rio por mais 10 dias e me mandei pra Curitiba de novo! E, de lá, voltei pro Rio por um dia e fui pra Recife, onde passei um ano e alguns meses. Depois disso, vim para Salvador, o que completará 2 anos no dia 19 de maio.

Todas essas mudanças, além de me concederem toda uma carga de responsabilidade que até hoje não me considero madura o bastante para sustentar, me fizeram perder algo de muito precioso. Não, não me refiro à inocência, que já estava perdida quando do início da história, e muito menos o último capítulo de Senhora do Destino, que passou quando eu não estava na estrada. Refiro-me ao meu amado sotaque, aquela coisa meio mistura de rádio mal sintonizado com ser humano.

Comecei a me dar conta deste fato há algum tempo, precisamente na última semana do ano passado, quando um velho amigo lá do Rio me ligou pra dizer que estava em Salvador. Ele chamou a atenção para o fato de que meu sotaque estava muito diferente, bem mais próximo do sotaque baiano que do carioca. E reparei na maneira como ele falava, os chiados característicos, os Is colocados entre o E e o S nas palavras, o som meio anasalado no final de toda e qualquer sentença. Coisas, enfim, que só quem não está habituado a falar desse jeito percebe.

Posteriormente, notei que conseguia identificar qualquer sotaque de qualquer turista que estivesse próximo a mim. "Esse cara é australiano", "aquele ali tem sotaque de capixaba", "aquele outro só pode ser pernambucano", etc. E me peguei reconhecendo cariocas! E não tipo, "olha, ela fala do mesmo jeito que eu, é minha conterrânea!". Era mais tipo "eita, olha como ela chia quando pede um bishcoitoãh di chocolátiãh. Só pode ser carioca".

Hoje, por fim, foi o ápice. Estávamos no posto de gasolina perto daqui, comendo nossos cachorros-quentes tamanho pastor canadense, quando ouvi um diálogo entre uma cliente e a moça do balcão.

Cliente: Você tem certeeezan de que esse paishtel aqui na vitriniãh é de peito de peruu?
Atendente: Não, senhora. É de peito de frango.
Cliente: Ah, tá... E tipoãh, essa ishfirra aqui, é do quêãh?

Posteriormente, repeti o diálogo para o namorido, enquanto ele se rachava de rir da minha imitação do que costumava ser meu sotaque. E foi aí que tudo desabou sobre minha cabeça. Aquele sotaque estranho, que soava de maneira tão esquisita na minha boca, que eu estava forçando... Era daquele jeito que eu falava! E hoje, é quase alienígena para mim!

Me senti desterrada, apátrida. Sem vínculo algum com minha terra natal. Quase virei emo, a ponto de virar a franja - que já cresceu um pouco demais - por cima de um dos olhos e ficar fazendo mimimi no meio da rua. Mas aí lembrei de Joseph Cliver, ergui a cabeça, murmurei para mim mesma que a vida é uma caixinha de surpresas e segui para casa.

Esperem só até abril, bando de sacana. Vou voltar parecendo um rádio quebrado!

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