sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Gatos, emos e outros(as) bichos(as)

Dono de gato é um bicho filhadaputamente emotivo. Isso, ou eu sou uma bicha filhadaputamente sensível.

Dia de faxina. Como Raoul, o dono da casa (eu e Cris somos, na verdade, os humanos de estimação dele; o resto do povo da casa, provavelmente os humanos selvagens que aparecem de vez em quando pra encher o saco; Billy e Meg, os cockers, devem ser as pulgas, sei lá), não suporta a faxineira, lá fui eu, me arriscando a levar um par de unhadas nas fuças, carregar o bicho pro quarto do meu cunhado.

Aproveitando que tinha sido temporariamente expulsa da minha casa - ok, é só um quarto, mas como eu passo 95% do meu dia aqui dentro... -, decidi ir me reabaster de fumáveis. Quando voltei, descobri que Zezé (é, ela mesma, a faxineira que ninguém merece) tinha tirado a roupa de cama. Conhecendo a peça, e sabendo que, de 10 vezes que ela tira os lençóis da cama e as toalhas do banheiro pra lavar, 11 ela faz o favor de não trazer substitutos, fui buscar novos. Que, por acaso, ficam no quarto do cunhado.

Mal abri a porta, um raio branco-raiado-de-cinza-e-preto voa pra perto dos meus pés.

- Raoul, meu filho, o que houve?
- Mi... mi... (imagine o miado mais triste que você já ouviu na sua vida. Caso não goste de gatos, imagine uma criança de 7 anos chorando em silêncio, sozinha no canto de um quarto escuro. Caso não goste de crianças, imagine os olhos lacrimosos de um cachorro que não come a duas semanas. Caso não goste de animais e nem de crianças... Bem, imagine o saldo da sua conta bancária no final do mês. É, triste a esse nível.)
- Que foi, bebê? Puque voxê tá miandinhu tão tixtinhu nenem fororongo da mamijinha? (é, eu falo que nem uma retardada quando converso com meu gato. Não que conversar com o gato já não seja uma atitude meio autista, mas abstrai.)
- Mi... (novamente, o saldo da conta...)

Ele literalmente estava com o rabo entre as pernas. Todo enroladinho. Achei até que estivesse apertado, mas, por respeito, não quisesse se aliviar longe da caixinha de areia dele. Como eu não tenho o mesmo respeito que ele tem pelo meu cunhado, coloquei o bichinho em cima da cama do desinfeliz e comecei a imitar barulho de água. Nada, o pobrezinho só miava e me olhava, o rabo todo enroscado e enfiado entre as patinhas, os olhos lacrimosos, o corpo todo tremendo.

De vez em quando, ele chegava perto da porta e, apesar de ela estar trancada, tentava abrir com as garrinhas puxando pela borda. Sempre com aquele miado de "acabou o sorvete, o chocolate e minha alegria de viver". Eu fazia carinho nas costas dele, e ele empinava a bunda, mas o rabinho continuava lá embaixo.

Tomei uma decisão. Carreguei as roupas de cama pro meu quarto e voltei pro quarto do cunhado. Nesse meio tempo, o gato já estava todo enfiado atrás do armário. Desenterrei ele de lá e fiquei com ele no colo, fazendo cafuné, tendo pedido pra faxineira me chamar quando terminasse.

Mal entrei no quarto, Raoul no colo, o próprio gato empurrou a porta pra fechar e saltou pro chão. O rabinho em pé, o miado alegre e estridente, roçando na minha perna que eu sentia o ronronar. Será que era tudo charminho porque ele não queria ficar longe do quarto? Gato cretino!

E agora tô eu aqui, quase chorando de alívio porque o gato está mais felizinho, com miados de quem acabou de receber o 13º e ainda ganhou na raspadinha. E o cretino tentando deitar em cima do teclado, e eu, claro, mãe babona que sou, achando tudo lindo.

Até ele resolver afiar as unhas na minha perna pra pedir comida de novo.

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