sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Nostalgia attacks

Jogava, sem prestar atenção direito no que fazia. Movia o mouse pra lá e pra cá, meio pra evitar as bolas de sorvete que vinham direto na direção do bonequinho, meio pra ter o que fazer com a mão esquerda. A direita, como sempre, entretida em levar o cigarro à boca e pousá-lo no cinzeiro ocasionalmente.

De repente, vindo não sei de onde, um cheiro de pizza de calabresa com catchup - ou seria cheiro de catchup com pizza de gordura e meia dúzia de fatias de linguiça em cima? - me invadiu as narinas. Era o mesmo cheiro da pizza da lanchonete em frente à praça Afonso Pena.

Sem largar o jogo, comecei a me ver lá de novo, comendo pizza e assistindo o Jornal Hoje ali, logo na frente da pracinha onde eu brincava quando ainda usava fraldas. Sempre rolava uma discussão discreta, entre eu e minha mãe, porque eu queria pizza de calabresa - era mais barata, e uma de minhas preferidas - e ela queria de frango com catupiry. Acabávamos decidindo por uma meio-a-meio, depois de uma briga desnecessária, claro. Meu Deus, naquela época eu ainda gostava de pizza com catchup! Hoje em dia, é só azeite e orégano, mas, naquela época, pizza sem catchup, pra mim, não era pizza. Era uma massa estranha com alguma coisa em cima.

Comecei a lembrar também da minha oitava série. Incontáveis vezes Lie, Poly, Kalot, Lesa e eu matamos a aula de educação física, que era em um clube ali perto, pra irmos comer pizza lá. Não porque era a melhor pizza da cidade, ou algo assim, mas porque era perto o suficiente do clube e de nossas casas, além de ser barato. Não consigo me lembrar de jeito nenhum o nome da pizzaria, embora suspeite que fosse "pizza da praça" ou coisa do tipo. Só lembro que era do mesmo dono da loja especializada em frango que tinha praticamente do lado, que tinha um nome extremamente criativo, algo como "frango veloz" ou "frango feliz" ou "frango psico-maníaco depressivo roxo de pintinhas verde cocô de papagaio que corre feito uma lesma albina" ou algo assim.

Deu saudades. Deu curiosidade de saber se a loja ainda existe ou não. Mas, principalmente, deu vontade. Daquela pizza. Não serve nenhuma outra: não sei se é a nostalgia, não sei se é a memória de samambaia plástica, mas o que eu me lembro do gosto daquela pizza não se compara a pizza nenhuma que eu comi desde que saí de lá - e olha que experimentei bastantes pizzas nos lugares que visitei e onde morei desde que saí do Rio. É algo de especial, sei lá.

Por isso, se algum de vocês, amiguinhos cariocas (Michel, serve você mesmo, já que você diz que é o único leitor que eu tenho, apesar dos fanmails que eu recebo de vez em quando -continuem escrevendo! eu quase choro toda vez que recebo um!), por acaso passar pela Praça Afonso Pena, verifiquem pra mim se ainda existe uma pizzaria do lado da loja de sapatos, se é que a loja de sapatos que tinha do lado da farmácia ainda existe, se é que a farmácia que tinha do lado do pão de açúcar ainda existe. Verifiquem e me avisem. Assim, vou poder continuar sonhando que estou no Rio e comendo a pizza de lá.

...melhor que continuar sonhando com o Kiko (é, aquele mesmo, de Chaves) cantando The Winner Takes It All, do ABBA, no programa do Faustão.

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