quarta-feira, maio 14, 2008

Amor de mãe [2]

Ninguém perguntou, mas o gato passa bem e a cirurgia foi um sucesso.

Passei horas de puro sofrimento materno. Cada miadinho desesperado que eu ouvia vindo da sala de operações, eu achava que era ele. Já estava começando a me achar uma louca, quando uma senhora, que aguardava seu pequeno Chamuscado (veja como são as coisas, eu sei o nome do gato dela e ela sabe o nome do meu; em momento algum eu perguntei o nome dela, e nem ela o meu), comentou exatamente a mesma coisa comigo. Fiquei aliviada.

Então, depois de 4h ouvindo as longas peripécias dos dois anos de vida de Chamuscado, contando as peraltices dos quase três de Raoul, batendo papo com os donos de três cães que também estavam lá para perder as bolas, finalmente Videl veio da sala de operações com meu bebê no colo. Meu coração quase parou de medo quando o vi - ainda totalmente anestesiado, os olhos abertos e fixos, a respiração tão fraquinha que mal se via o peito dele mexer. Aí ela me explicou que era normal, e que dali a pouco ele começaria a acordar. O procedimento padrão seria ele ficar na sala ainda, até os efeitos da anestesia começarem a passar, mas ela conseguiu que ele ficasse comigo enquanto se recuperava, contanto que, qualquer coisa, eu chamasse algum veterinário. Acho que só concordaram porque o pestinha deu um pouco de trabalho, e ele provavelmente se sentiria mais seguro se a primeira coisa que visse quando acordasse fosse algo familiar.

Quando finalmente viemos para casa e eu o tirei da bolsinha dele, além de ele estar todo mijado (o safado fez xixi três vezes dentro da sacola, duas delas enquanto a sacola estava no meu colo), tava todo cambaleante. Dei um pouco de água para ele, deixei ele sentadinho na caixinha de areia por via das dúvidas e fui lavar a bolsa, minha calça e as toalhas e roupas (usadas, minhas e de Cris) que estavam dentro da bolsa para mantê-lo quentinho e se sentindo seguro. Quando voltei é que fui prestar atenção nele.

O bichinho andava que parecia estar bêbado. Cambaleante, se tentava se deitar perdia o equilíbrio, caía e ficava por ali mesmo. Acho que, orgulhoso como todo bom gato, ele preferia fingir que era essa a intenção dele desde o começo a admitir que não estava muito bem. Não miava e mal comia, porque não tinha forças para manter a boquinha aberta. Às vezes começava a bocejar, mas perdia o interesse e ficava com metade da língua pra fora da boca.

Toda vez que eu o via conseguindo fazer alguma coisa sem precisar de ajuda, me dava vontade de chorar. Só relaxei quando fui tirar um cochilo, e ele deitou juntinho de mim. Peguei no sono sentindo a respiração dele, cada vez mais forte, as patinhas de trás apoiadas no meu joelho, a cabeça deitada no meu travesseiro, as costas na minha barriga.

Acordei quando Cris chegou, e, pro meu quase-desmanchamento-em-lágrimas, o gato começou a miar. Miado fraquinho, ainda meio incerto, mais fininho, mas, ainda assim, desde de manhã cedo que ele não miava. Passamos o dia inteiro mimando o bichinho, alimentando com ração cremosa (porque daí ele não precisava mastigar), carregando ele no colo quando ele queria ir pra sala com a gente, fazendo cafuné e paparicando de todas as formas possíveis. De noite, quando viemos deitar, ele se enfiou entre a gente e dormiu, ora enroscado em Cris, ora enroscado em mim, sempre sem sair de debaixo do lençol.

Acordei com ele miando, mais alto, mais forte e definitivamente mais fino, e, novamente, quase chorei quando o vi atacar a ração seca com uma fúria que parecia que ele não comia direito desde anteontem. Bom, ele realmente não tinha comido praticamente nada desde anteontem.

E agora, ele dorme. Debaixo da cama, porque é quentinho e escuro. Não vejo a hora de ele ficar totalmente recuperado, pra eu trazer a nova irmãzinha dele pra casa.

É, nova irmãzinha. Porque coração de mãe é assim - sempre cabe mais um. E como ela já meio que me adotou mesmo...

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