quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Almocei e peguei o ônibus para ir ao cartório. Como sou míope de pai e mãe (bom... míope de pai, astigmata -quê?- de mãe, mas enfim), e estou a uns bons 6 anos sem usar óculos direito, pego o ônibus pela cor e pelo pouco que consigo distinguir das letrinhas na frente.

Fui descobrir que não era o certo quando ele virou pra pegar a Paralela, uns bons 2km antes do ponto em que eu desceria. Como estava com o dinheiro contado (a propósito, não precisei rodar a bolsinha), decidi saltar ali mesmo e ir andando.

Solaço de meio-dia na testa, eu de salto alto. Cheguei ao cartório dolorida, com os pés inchados e os braços tão vermelhos que quase falei para a atendente "mim Arielle, mim querer procuração pro cacique da tribo". Resisti ao impulso e pedi, normalmente, uma senha para procuração. A moça me encaminhou direto pro cubículo do escrevente.

"Ótimo", pensei. Não precisaria ficar duas horas e meia esperando para ser atendida, e talvez eu conseguisse sair dali a tempo de mandar a bendita pro Rio por sedex e ela chegar ainda amanhã.

- Moça, vocês fazem procuração de hasta pública?
- Fazemos sim. Pra isso você precisa de uma senha especial, mas as senhas de hoje acabaram. Só amanhã, agora. Tenta vir de manhã pra conseguir uma.

Engoli com dificuldade a vontade de chamar a escrevente, a mulher que tinha me atendido de manhã e, na verdade, todo o sistema judicial brasileiro de filhos de uma puta arrombada.

Expliquei cuidadosamente a urgência da situação, dando um vislumbre geral do problema (eu preciso disso pra semana passada!), e pedi com carinho que ela me indicasse um cartório menos concorrido, onde eu talvez conseguisse fazer ainda hoje a porcaria do treco.

- Talvez até tenha senha em algum cartório, mas... você sabe que esse tipo de procuração leva 15 dias pra ficar pronta, né?

COMO ASSIM?! Da última vez em que eu fiz uma procuração dessas, em Recife, levou pouco menos de 40 minutos, e isso porque eu fiquei discutindo com o tabelião sobre alguns dos termos utilizados.

- Só tem um cartório em Salvador que entrega esse tipo de documento no mesmo dia...

Ótimo! Dá logo o endereço do lugar, moça! Não enrola!

-...que fica na Baixa do Sapateiro, e é bom chegar lá umas 8h da manhã pra conseguir pegar a senha.

Moro em Itapuã. Para quem não está muito familiarizado com a geografia de Salvador, basta dizer que é literalmente do outro lado da cidade.

O que quer dizer que amanhã é dia de acordar 6h da manhã. Ô fase.

Pelo menos, com alguma sorte, amanhã mesmo acaba essa novela.

***

Estou chocada, passada e em 47 tons de bege.

Um amigo nosso veio nos visitar hoje. Depois de irmos ao mercado, ele estacionou o carro aqui na frente de casa, ligou o alarme e nós entramos pra comer. Ficamos na sala, de forma que, se o alarme disparasse, ouviríamos. A violência aqui nas vizinhanças está absurdamente em alta.

Comemos até não mais aguentar, e depois ele foi embora. Na hora em que ele estava saindo com o carro, foi ligar o rádio e... cadê?

Ou esse nosso amigo não sabe lidar direito com o alarme do próprio carro, ou o ilustre cidadão que levou embora o rádio do carro dele tem as manhas de desarmar alarme.

Terceiro roubo de rádio de carro de alguém próximo que ocorre literalmente na porta aqui de casa. Da outra vez roubaram o do nosso carro e o do carro de Amy, no mesmo dia, durante o feriadão do dia das crianças. A diferença é que nenhum dos dois tinha alarme na época, e os imbecis ainda tiveram as manhas de quebrar o vidro do nosso carro. Graças a isso nossos vizinhos perceberam que tinha algo de errado e vieram nos avisar.

E é assim que a máquina pública funciona: se dão ao trabalho de criar toda uma burocracia pra atrapalhar os cidadãos na hora de resolver seus problemas, mas, pra botar polícia na rua e defender o que os cidadãos suaram pra conseguir, não dá, né?

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